Há nove meses, nascia a pequena Ester, filha de Mara Célia
Alves da Silva e a mais nova entre
quatro irmãos. Uma gestação
aparentemente saudável e sem
risco, mas que surpreendeu a
costureira, de 38 anos, que até
então nunca tinha ouvido falar
de microcefalia, uma má formação irreversível do cérebro, que
pode vir associada a danos mentais, visuais e auditivos.
Mara Célia só soube que a filha tinha microcefalia após o nascimento (Foto: Moura Alves/ O Dia)
Assim que chegou à Maternidade Dona Evangelina Rosa, o
médico solicitou um ultrassom e
constatou que a cabeça da criança
era menor que o tamanho recomendado, mas, naquele momento, não havia se cogitado que se
tratava de microcefalia. E como
Mara Célia não fez o acompanhamento de pré-natal, descobriu
que a filha tinha essa anomalia
somente no momento do parto.
“Como eu não sabia o que era
e nunca tinha ouvido falar de microcefalia, eu só tive medo dela
morrer, aí começaram a aparecer
outros casos e foi quando eu entendi o que estava acontecendo.
No começo, o médico fazia muito medo, dizendo que ela tinha
pouco tempo de vida, que talvez
não resistisse e eu tinha medo de
perdê-la, mas depois que as coisas
foram acontecendo, eu passei a
compreender melhor e fui ficando
mais aliviada”, disse.
Ester foi o nono bebê a nascer
na Maternidade Dona Evangelina
Rosa com microcefalia em decorrência da mãe ter sido infectada
pelo vírus da zika. Mara Célia
conta que a filha nasceu na época
em que vários bebês começaram a
apresentar a má formação e começou-se a discutir a relação da zika
com os casos de microcefalia.
Passados quase nove meses do
nascimento da pequena Ester, a
costureira garante que o sentimento pela filha cresce a cada dia e que
não tem vergonha em assumir que
a menina possui microcefalia. “Eu
me sinto muito feliz com ela e a
amo muito. Não me importo de
falar que ela tem microcefalia, até
porque se a gente não fala, outras
mães que estão passando pelo
mesmo que eu não terão informações e orientações do que fazer;
então, ela está servindo de exemplo”, acrescenta Mara Célia.
Acompanhamento
especializado
Três meses após receber o
diagnóstico que Ester tinha microcefalia, a costureira Mara Célia buscou orientação na própria
maternidade sobre o tratamento
que a filha deveria ter e recebeu
encaminhamento para procurar o
Centro Integrado de Reabilitação
(Ceir). Lá, a criança recebe acompanhamento com uma equipe
multidisciplinar duas vezes por
semana, exercitando, sobretudo, as
funções motoras.
“Antes, o acompanhamento era
quatro dias na semana, mas agora são só dois dias, porque tem
que seguir o estágio de três meses e depois seis meses, além da
fisioterapia e psicólogo. Quando
começamos, ela tinha apenas três
meses, e, nesses seis meses, eu vejo
uma evolução muito boa. A Ester
era parada e agora está interagindo
com a gente, já começou a sorrir,
a querer pegar os objetos e o tratamento está ajudando muito. Os
profissionais fazem os exercícios
lá no Ceir e eu continuo aqui em
casa. Sempre que posso, tiro um
tempo para fazer os exercícios
dela e, quando não dá, meu esposo ou meus filhos ajudam nessa
parte”, disse.
A costureira explica que a fisioterapia e o acompanhamento com
os profissionais têm ajudado a filha
a se desenvolver fisicamente e que
os resultados futuros trarão benefícios à pequena Ester. Ela cita que
uma colega sua teve uma filha com
microcefalia, na época em que não
se fala muito sobre essa má formação. Sem orientação, a criança não
recebia tratamento e acabou estagnando. Recentemente, ela teve
outro filho, também com microcefalia, mas desta vez buscou a ajuda
no Ceir e é perceptível a evolução
da criança.
Por: Isabela Lopes - Jornal O DIA